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:: encontro com o beco um ano depois ::

 

Volto ao Beco do Jasmim um ano depois. E encontro um beco muito mudado…

 

Quando eu comecei a considerar dançar a dança do beco, eu já considerava que aquela dança encontrava espaço para existir pulsando nos encontros que se faziam na minha presença no beco, não era uma dança fixada em mim ou uma dança local, era uma dança que estava aberta a ser o que fosse…  Até porque dançar na rua me sugeria a não aprisionar a dança e chamá-la minha, é mais perto de uma dança que acolhe e acompanha o que vai nascendo na insistência em estar, na crueza de existir sem focar nos limites ou forma que fossem aparecendo… continuar. Por isso eu não me assustei ao voltar depois de um ano no beco e encontra-lo “de pernas para o ar”, até porque sabia eu, muito bem, que as reformas para renovar a mouraria (obras que pretendem arranjar os espaços públicos) já haviam começado, e que existia a ideia de aplainas as inclinações do beco (qualidade que mais me relacionei com o beco, todo torto, cheio de surpresas a cada passo), e é claro que as pinturas a cada pincelada nas paredes eram consideradas serem um dia apagadas… e lá estava o beco com as pedras todas levantadas, as paredes todas em fase de retirada das pinturas (hoje que escrevo já estão por baixo da tinta, que uniformizou o beco como se existisse uma cor basem ou natural para aquele espaço todo assimétrico e ruidoso).

 

Ao sair do beco nesse dia, vem o Gonçalo com algo na mão e diz: Lyncoln, o olha o que estava em baixo de uma pedra, e me mostra um cartão, daqueles que eu pintava um por um, quando chegava em casa depois de ter dançado o dia todo no beco… como aquilo ficou ali durante um ano não sei… sei que me pergunto: qual é meu limite para continuar vendo as linhas que continuam mesmo por traços distorcidos? Qual é minha capacidade de acompanhar a deformação e continuar a dança?

 

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