hoje quero falar em outros tempos
tocar aquele que ainda não veio
mas que sim, virá
será aqui então, assim, como estou
sintonizado no canal desta carne
eu quero encontra-lo
este será meu futuro
será que me escutarás?
será minha escrita precisa suficiente para toca-lo?
quero que minha escrita seja agulha,
fazerei costuras, bordados e cirurgias
afiada, um fio de aço fino que crava na pedra a imagem,
risca, uma faísca suave na pele,
não somente entre, crie passagem
ó incorporada palavra,
te permito: siga viagem,
transporta-me em tua cavalgada insana tão longínquo recado
me curvo, este sou eu, a tua carruagem.
quero tocar-te.
carne e além.
respiro,
trago para dentro este ar que me envolve
estou cheio, são ciclos respiratórios, inspirações,
suspiro
e sopro esta voz
há algo
aguardando
a emergência da escuta
deste chamado:
ler e escrever
contemporâneo e antepassado
em uma só memória
esta voz que te chega
apela a outras vozes
apela a outras pedras
apela a outras mãos
e em fim te pergunto:
tens a consciência de que tu és teu próprio mensageiro?
chegamos até aqui,
nosso bruto presente
ecoando os nossos próprios retornos, sim, eternos.
e nos caminhos que que seguimos
encontramos estas mensagens
que se abrem à luz,
e assim que passamos pelo tempo:
pedra-papel
caverna-caderno
gesto-escrita
chamado-canto
verbo-carne
palavra-amor